quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Seus Pés não Encontraram o Chão


O PASSEIO ESTAVA MARCADO para o dia seguinte ao seu aniversario. Seria meio que um presente, que com certeza era o mais desejado de sua vida. Até o momento! Mal conseguira dormir, a ansiedade batia forte para o que seria apenas mais um dia de sua vida em que saia com seus amigos.

Acordou como se tivesse um despertador dentro de si, levantou, escovou os dentes, se vestiu, penteou os cabelos. O sol já estava alto lá fora.  Partiu com sua bicicleta para o encontro que se repetiu um milhão de vezes e com certeza não seria o último. Naquele dia iria pedalar quilômetros de distancia em direção ao desfiladeiro.

Sua voz refletia nas paredes rochosas, dez, cem vezes dizia seu nome. Gritou até perder o fôlego, ele e seus amigos todos ao mesmo tempo.

Em sua atitude de criança não mediu as consequências ao colocar seus pés na beira do precipício, nem ao olha tão perigosamente para baixo. Não pensava que poderia cair, incrivelmente, sua mente era muito seletiva e a certeza de uma morte dolorosa ou simplesmente a mais calma das mortes, ainda não avia se revelado para ele. Claro que sabia o significado daquela sombria palavra, mas não lhe fazia sentido, estava a anos luz de distancia dela. Das coisas mais inofensivas poderia criar monstros de sete cabeças, porem, diante do verdadeiro perigo não dava a menor importância.

Pulou por rachadoras na terra, que se caísse nelas poderia quebrar o pescoço. Foi em lugares que os amigos não conseguiam ir ou não queriam. Eles viam as conseqüências de seus atos. E depois de muito gritar e pular, todos foram embora em direção a suas casas, as suas vidas, mas ele ficou. Vil a noite cair aos poucos,  as cores perderem o brilho. Sentou-se no chão começando a falar, os ecos respondiam. De repente a  voz que retornava não era mais sua. O chamava para junto dela, queria tê-lo a qualquer custo. Venha, venha, venha para mim, dizia ela.

Não se assustou, pôs-se de pé, de frente para o precipício. A voz continuava a chamá-lo cada vez mais baixa. Não queria perde-la, delirando, andou um, dois passos para frente. Seus olhos instintivamente se fecharam andou, dois, três passos para frente. E como um sonâmbulo deu seu definitivo passo, até que seus pés não encontraram o chão.

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