sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O amor preso em pequenas quantidades!


PENSO QUE SE ALGO  próximo daquilo chamado magia existisse no mundo, aqui entre nós, as regras do jogo seriam totalmente diferentes. Porque quando fazemos a realidade explicando tudo a nossa volta com a sabedoria da ciência, aquilo que tem de fantástico e sobrenatural se dissolve no ar. Passando para o lado da crendice popular ou apenas ficando nas páginas de livros ou a nas telas do cinema e da TV. Dependendo do ponto de vista a ignorância do funcionamento do universo pode alimentar a imaginação, nela a escuridão é povoada de monstros e o desconhecido é sempre mais bonito.

Imagine as possibilidades de um animal fantástico como um dragão, sobrevoando as cidades de concreto. Pense em algo mais simples como, por exemplo: uma poção do amor, a verdadeira de efeito imediato, que cause algo como uma admiração profunda e desejo de possuir a pessoa que for vista pela primeira vez. Um amor falsificado, ou melhor, uma paixão desenfreada que possa ti consumir por dentro até o momento em que consiga aquilo que desejar. E esfrie aos poucos sendo renovada com mais uma doze de magia liquida ou até mesmo com um efeito permanente. Afinal Tristão e Isolda se amaram por toda uma longa vida.

Nesse pequeno conto três garotos se apaixonarão por uma menina, a mais bela da escola, e por isso, a mais desejada, consequentemente a mais fútil e mimada.

Os três procuraram estar ao lado dela de todas as formas possíveis, bolando meios de conquistá-la. Ela não percebia ou simplesmente não se importava ou talvez até tivesse um pouco de divertimento, pois era garantido que gostava de ver e ser vista.

Cada um dos três por meios tenebrosos conseguiram a poção. Um pequeno frasco azulado que apenas continha sete gotas.

“O amor preso em pequenas quantidades!”

Dizia uma inscrição em letras minúsculas em cada um dos frascos. As instruções eram bem corretas:

“Nunca ministre mais que uma gota apenas, para se obter o temporário amor desejado.” 

Em uma bela tarde ensolarada, ela tomou vinte e uma gotas, sete em cada hora. E o feitiço fez seu efeito dilatando o coração da linda menina, acumulando o amor por três garotos inconsequentes. Ao final do dia, enlouquecida, se despediu com vários beijos calorosos, uma mistura de amor e contentamento, em quando o peito doía.

Ah noite quando se deitou em sua cama com a cabeça tão pesada pelos pensamentos, que não se evaporavam tão rapidamente, acumulados ao longo daquelas 24 horas. Custou a dormir, mas quando conseguiu, não acordou nunca mais.

Parece-me que os sonhos que ela teve eram muito bons.


Teve uma bela intoxicação de amor!


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Seus Pés não Encontraram o Chão


O PASSEIO ESTAVA MARCADO para o dia seguinte ao seu aniversario. Seria meio que um presente, que com certeza era o mais desejado de sua vida. Até o momento! Mal conseguira dormir, a ansiedade batia forte para o que seria apenas mais um dia de sua vida em que saia com seus amigos.

Acordou como se tivesse um despertador dentro de si, levantou, escovou os dentes, se vestiu, penteou os cabelos. O sol já estava alto lá fora.  Partiu com sua bicicleta para o encontro que se repetiu um milhão de vezes e com certeza não seria o último. Naquele dia iria pedalar quilômetros de distancia em direção ao desfiladeiro.

Sua voz refletia nas paredes rochosas, dez, cem vezes dizia seu nome. Gritou até perder o fôlego, ele e seus amigos todos ao mesmo tempo.

Em sua atitude de criança não mediu as consequências ao colocar seus pés na beira do precipício, nem ao olha tão perigosamente para baixo. Não pensava que poderia cair, incrivelmente, sua mente era muito seletiva e a certeza de uma morte dolorosa ou simplesmente a mais calma das mortes, ainda não avia se revelado para ele. Claro que sabia o significado daquela sombria palavra, mas não lhe fazia sentido, estava a anos luz de distancia dela. Das coisas mais inofensivas poderia criar monstros de sete cabeças, porem, diante do verdadeiro perigo não dava a menor importância.

Pulou por rachadoras na terra, que se caísse nelas poderia quebrar o pescoço. Foi em lugares que os amigos não conseguiam ir ou não queriam. Eles viam as conseqüências de seus atos. E depois de muito gritar e pular, todos foram embora em direção a suas casas, as suas vidas, mas ele ficou. Vil a noite cair aos poucos,  as cores perderem o brilho. Sentou-se no chão começando a falar, os ecos respondiam. De repente a  voz que retornava não era mais sua. O chamava para junto dela, queria tê-lo a qualquer custo. Venha, venha, venha para mim, dizia ela.

Não se assustou, pôs-se de pé, de frente para o precipício. A voz continuava a chamá-lo cada vez mais baixa. Não queria perde-la, delirando, andou um, dois passos para frente. Seus olhos instintivamente se fecharam andou, dois, três passos para frente. E como um sonâmbulo deu seu definitivo passo, até que seus pés não encontraram o chão.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Reino das Sombras - Granfaloon

Em que Venial recebe um mal presagio. 


MIL CORPOS SE ENROSCAVAM em uma bolha gigantesca a apenas poucos metros do chão. Com roupas apodrecidas ou a nudez total, estavam cobertos por um muco especo que era proveniente de uma criatura infernal. A bolha parecia pulsar!

Venial tenha consciência de onde estava, mas não sabia como avia chegado ali. Muitas partes do reino das sombras eram perigosas até mesmo para um deus. Ele muito menos tinha a forma e poder de um deus naquele momento. Estava em um corpo mortal, com privilégios no fato de ser um herói mas mesmo assim, poderia morrer.

Um dos corpos se desprendeu da enorme carapaça, caindo ao chão. E mais outro... e outro... a cada um que caia surgia outro por baixo, nunca revelando as fases da medonha criatura que os usava como escudo. E o que Venial tinha para se defender? Apenas um bastão de madeira e seus músculos, que muitas vezes era mais do que o suficiente para lhe garantir a vitória.

Enquanto seus bonecos se punham de pé o casulo pulsante afastou-se lentamente. As dezenas de rostos em sua carapaça sorriam e gemiam. Homens e mulheres preços, talvez, por toda eternidade servindo como proteção ao que só existia longe dos olhos dos deuses e do senhor daquele mundo, que coincidentemente era irmão de nosso herói.

Venial retrocedeu alguns passos para ao menos tentar se proteger das mãos estendidas de uma dezena de cadáveres. Se não conseguisse, tornar-se-ia um deles pra fazer parte da colmeia. Não podia fugir, achava que um verdadeiro herói nunca fugiria de desafios como aquele, essa principio estava entranhado em sua mente. Tinha que lutar e sabia que agora era hora de testar seu bastão.

Mirou em uma das cabeças e com um movimento de braço e sua imensa força conseguiu explodi-la o que foi uma alegre surpresa, pois achava que quebraria o bastão. Um por um ele abateu da mesma forma que fizera com o primeiro cadáver.

Corpos perfeitos. Não avia nenhum dos que jogou por terra, que tivesse um defeito físico ou idade avançado. Todos eram belos e entre eles, mulheres que com certeza, em vida seduziriam reis ou até mesmo o pai de Venial. Agora, tinha que avançar e de alguma forma  derrotar a bolha flutuante. Talvez aquilo fosse vontade de seu pai. E um nome veio em sua mente Granfaloon.

Chegou à beira de um negro precipício onde Granfaloon descia como se não tivesse peço. Soube nesse momento o que tinha de fazer. Gemidos, gritos e lamentos vinham da rachadura na terra negra e carbonizada de onde a criatura descia cada vez mais.

Pulou... 

Iria abrir um caminho por entre aqueles cadáveres e alcançá-lo. Uma boca se abril sobre a carcaça de mortos, soltando um estrondo que mais se assemelhava com uma gargalhada e engoliu Venial, homens e mulheres ergueram os braços para recebê-lo e a escuridão prevaleceu.


Acordou em sua tenda de acampamento, o corpo recoberto por uma camada de frio suor. Sem saber onde estava e a lembrança de seu terrível sonho fugindo aos poucos da memória, de alguma forma Venial sabia que aquilo não fora apenas um sonho.  

sábado, 3 de janeiro de 2015

Batidas na porta...


"Três batida leves"

CONTINUAÇÃO DE - COMO COMEÇOU

TEMPO, AGORA VERDADEIRAMENTE ELE não existe ou simplesmente está perdendo seu significado para mim. Fiquei a vários dias sem escrever nessas folhas amareladas que a cada momento se tornam mais enjoativas do que o de costume. Não importa... de qualquer forma as palavras se acumulam sobre a escrivaninha, tenho que escrever. Ele, o tempo, morto e enterrar sobre todas as montanhas da terra. Se é que um deus pode morrer, pelo menos foi esquecido!

Está cama me prende no quarto, com a promessa de nada para fazer. Dormir é tão bom! Sou o único ser vivo sobre a terra e enquanto ela se transforma em pó eu permaneço imutável. Tenho que me lembrar a cada dia de vida e testemunhar o que acredito estar para acontecer. Apenas, espero...

***

Algum motivo maior deve existir para que eu possa ter descoberto aquela formula que nunca mais pude fabricar. Porem só bastou uma vez.

A noite esta caindo, a noite esta caindo e tudo aquilo que era pra ser lembrado. Tudo que foi conquistado durante séculos de evolução e desenvolvimento também cai lá fora.

Mas justamente agora, depois de anos de solidão tentando descobrir como isso aconteceu, como só restei eu? Me batem na porta, três batida leves que quase não consegui escutar.  As três batidas mais perturbadoras que escutei em minha longa vida.

Pergunto quem é? Me levanto e abro a porta? Talvez seja esse momento que esperava tanto.