quarta-feira, 5 de novembro de 2014

OLOCRÔNICAS


QUATRO FACHOS DE LUZ saem de cada canto da sala se concentrando em um único ponto. Um vulto indistinguível surge criando forma.

- Mas o que é isso, Elias? – e aponta em sua frente, a moça que aparece como se fosse um fantasma surgindo do nada.

- Oh, rapaz, como você pode me fazer uma pergunta dessas? É impossível não saber o que é?  
- Esta bem... Um holograma!

- Sim e não, não é apenas um holograma que estou lhe mostrando. Venha! 

Dizendo isso, caminha em direção ao meio da sala. Onde esta a mulher que acabara de se formar.

- Como vai, Lívia.

- Estou bem, doutor.

- Trouxe Rafael para conhecê-la. Ele é jornalista!

Lívia lançou um olhar em Rafael, que se aproximou bem perto para ver as falhas no holograma.

- Toque nela – disse Elias, aparentando ansiedade.

- Mas ela não é só um jogo de luzes. Minha mão atravessaria seu corpo?

- Garanto que não, vamos tente. Tive grandes avanços em meus estudos com a luz.

- Esta bem! 

Nervoso com a ideia de poder tocar naquele holograma, Rafael hesitou alguns segundos. Lívia lhe estende o braço e ele lhe segura a mão. Era tão real como se estivesse tocando alguém. Exceto por um fator: ela não tinha a textura e calor que se esperava vir da pele.

- Ainda tenho que me aprimorar muito mais, não é? – sorriu Elias.

- Concordo, mas já foi um grande passo, doutor.

- Sim, um grande passo! – disse Elias saindo da sala na companhia de Rafael.

As luzes se desligaram e Lívia desvaneceu no ar como se nunca tivesse existido.      




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ESTAVA SENTADO NO CANTO mais escuro de sua casa, com um gosto amargo na boca e um grande vazio no peito. Iria escrever mais uma daquelas enormes cartas, era um dos que ainda usavam a escrita cursiva, privilégio de poucos. Foi uma boa forma de encher o vazio e também caixas e mais caixas de papel.

Curvado no sofá, com uma das mãos apoiada na testa, pronunciou um nome. Sua voz não era nada mais que um sussurro, Elisa... disse ele novamente.

As luzes se acenderam mostrando a imagem de uma mulher, não tinha mais de 30 anos de idade. Minúsculas partículas de poeira magnética giravam em sua volta, aquilo mostrava que ela não era verdadeiramente um ser humano. Cada partícula encontrou seu lugar.

- Olá minha querida.

- Pablo, como foi seu dia?

- Ótimo, sente-se.

Elisa assentiu com um leve movimento de cabeça e sentou-se com toda sua falta de peso. As coisas mudaram tão rapidamente. Aquele fantasma na frente de Pablo era tudo que restara de Elisa, ele e as cartas.

Podia tocá-la, beijá-la, amá-la mas não era sua querida esposa. Mesmo assim agradeceu a Elias, por ter descoberto essa benção, Por ter deixado preservado um pequeno pedaço da consciência de sua esposa. Apesar de tudo Pablo nem mesmo conheceu Elias.

Elisa lhe deu um beijo carinhoso, mas foi como se um fantasma o tocasse com seu hálito frio. Mesmo assim, correspondeu o beijo.


Pablo era um homem morto...


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ELIAS SE COLOCOU NA frente da linda mulher, ela estava pronta, todo o projeto holográfico já tinha sido terminado.  

- Lívia, você é a primeira de muitos, alem de ser o projeto de minha vida é claro.

- Sim doutor, o que está reservado para mim...?

- Vai permanecer comigo, eu ti criei... você sabe que vamos vender inteligências holográficas para todos que tiverem as condições de pagar pelo preço elevado que isso exige, não sabe? Nenhuma cópia será igual à outra, então alem de ser a primeira você também é única.


Lívia com seu programado gesto característico abaixou a cabeça e deu um meio sorriso. Parecia feliz com aquilo, ser mais do que um robô, mais que algo feito em alto escala com varias copias idênticas andando pelo mundo. Ela era única tal qual um ser humano.


Elias apertou um botão e Lívia desvaneceu. Tinha muitos preparativos pra fazer, as vendas gerariam milhões. 


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