QUATRO
FACHOS DE LUZ saem de cada canto da sala se concentrando em um único
ponto. Um vulto indistinguível surge criando forma.
- Mas o
que é isso, Elias? – e aponta em sua frente, a moça que aparece como
se fosse um fantasma surgindo do nada.
- Oh,
rapaz, como você pode me fazer uma pergunta dessas? É impossível não saber o
que é?
- Esta
bem... Um holograma!
- Sim e
não, não é apenas um holograma que estou lhe mostrando. Venha!
Dizendo
isso, caminha em direção ao meio da sala. Onde esta a mulher que acabara de se
formar.
- Como
vai, Lívia.
- Estou
bem, doutor.
- Trouxe
Rafael para conhecê-la. Ele é jornalista!
Lívia lançou
um olhar em Rafael, que se aproximou bem perto para ver as falhas no holograma.
- Toque
nela – disse Elias, aparentando ansiedade.
- Mas ela
não é só um jogo de luzes. Minha mão atravessaria seu corpo?
- Garanto
que não, vamos tente. Tive grandes avanços em meus estudos com a luz.
- Esta
bem!
Nervoso
com a ideia de poder tocar naquele holograma, Rafael hesitou alguns
segundos. Lívia lhe estende o braço e ele lhe segura a mão. Era
tão real como se estivesse tocando alguém. Exceto por um fator: ela não tinha a
textura e calor que se esperava vir da pele.
- Ainda
tenho que me aprimorar muito mais, não é? – sorriu Elias.
-
Concordo, mas já foi um grande passo, doutor.
- Sim, um
grande passo! – disse Elias saindo da sala na companhia de Rafael.
As luzes
se desligaram e Lívia desvaneceu no ar como se nunca tivesse
existido.
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ESTAVA
SENTADO NO CANTO mais escuro de sua casa, com um gosto amargo na boca e um
grande vazio no peito. Iria escrever mais uma daquelas enormes cartas, era um
dos que ainda usavam a escrita cursiva, privilégio de poucos. Foi uma boa forma
de encher o vazio e também caixas e mais caixas de papel.
Curvado
no sofá, com uma das mãos apoiada na testa, pronunciou um nome. Sua voz não era
nada mais que um sussurro, Elisa... disse ele novamente.
As luzes
se acenderam mostrando a imagem de uma mulher, não tinha mais de 30 anos de
idade. Minúsculas partículas de poeira magnética giravam em sua volta, aquilo
mostrava que ela não era verdadeiramente um ser humano. Cada partícula
encontrou seu lugar.
- Olá
minha querida.
- Pablo,
como foi seu dia?
- Ótimo,
sente-se.
Elisa
assentiu com um leve movimento de cabeça e sentou-se com toda sua falta de
peso. As coisas mudaram tão rapidamente. Aquele fantasma na frente de Pablo era
tudo que restara de Elisa, ele e as cartas.
Podia
tocá-la, beijá-la, amá-la mas não era sua querida esposa. Mesmo assim agradeceu
a Elias, por ter descoberto essa benção, Por ter deixado preservado um pequeno
pedaço da consciência de sua esposa. Apesar de tudo Pablo nem mesmo conheceu
Elias.
Elisa lhe
deu um beijo carinhoso, mas foi como se um fantasma o tocasse com seu hálito
frio. Mesmo assim, correspondeu o beijo.
Pablo era
um homem morto...
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ELIAS SE
COLOCOU NA frente da linda mulher, ela estava pronta, todo o projeto holográfico
já tinha sido terminado.
- Lívia,
você é a primeira de muitos, alem de ser o projeto de minha vida é claro.
- Sim
doutor, o que está reservado para mim...?
- Vai
permanecer comigo, eu ti criei... você sabe que vamos vender inteligências
holográficas para todos que tiverem as condições de pagar pelo preço elevado
que isso exige, não sabe? Nenhuma cópia será igual à outra, então alem de ser a
primeira você também é única.
Lívia com
seu programado gesto característico abaixou a cabeça e deu um meio sorriso.
Parecia feliz com aquilo, ser mais do que um robô, mais que algo feito em alto
escala com varias copias idênticas andando pelo mundo. Ela era única tal qual
um ser humano.
Elias
apertou um botão e Lívia desvaneceu. Tinha muitos preparativos pra fazer, as
vendas gerariam milhões.