segunda-feira, 20 de outubro de 2014

UM HOMEM MORTO...


ESTAVA SENTADO NO CANTO mais escuro de sua casa, com um gosto amargo na boca e um grande vazio no peito. Iria escrever mais uma daquelas enormes cartas, era um dos que ainda usavam a escrita cursiva, privilégio de poucos. Foi uma boa forma de encher o vazio e também caixas e mais caixas de papel.

Curvado no sofá, com uma das mãos apoiada na testa, pronunciou um nome. Sua voz não era nada mais que um sussurro, Elisa... disse ele novamente.

As luzes se acenderam mostrando a imagem de uma mulher, não tinha mais de 30 anos de idade. Minúsculas partículas de poeira magnética giravam em sua volta, aquilo mostrava que ela não era verdadeiramente um ser humano. Cada partícula encontrou seu lugar.

- Olá minha querida.

- Pablo, como foi seu dia?

- Ótimo, sente-se.

Elisa assentiu com um leve movimento de cabeça e sentou-se com toda sua falta de peso. As coisas mudaram tão rapidamente. Aquele fantasma na frente de Pablo era tudo que restara de Elisa, ele e as cartas.

Podia tocá-la, beijá-la, amá-la mas não era sua querida esposa. Mesmo assim agradeceu a Elias, por ter descoberto essa benção, Por ter deixado preservado um pequeno pedaço da consciência de sua esposa. Apesar de tudo Pablo nem mesmo conheceu Elias.

Elisa lhe deu um beijo carinhoso, mas foi como se um fantasma o tocasse com seu hálito frio. Mesmo assim, correspondeu o beijo.


Pablo era um homem morto...

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