ESTAVA SENTADO NO CANTO mais escuro de sua casa, com um gosto amargo na boca e um grande vazio no peito. Iria escrever mais uma daquelas enormes cartas, era um dos que ainda usavam a escrita cursiva, privilégio de poucos. Foi uma boa forma de encher o vazio e também caixas e mais caixas de papel.
Curvado no
sofá, com uma das mãos apoiada na testa, pronunciou um nome. Sua voz não era
nada mais que um sussurro, Elisa... disse ele novamente.
As luzes se
acenderam mostrando a imagem de uma mulher, não tinha mais de 30 anos de idade.
Minúsculas partículas de poeira magnética giravam em sua volta, aquilo mostrava
que ela não era verdadeiramente um ser humano. Cada partícula encontrou seu
lugar.
- Olá minha
querida.
- Pablo, como
foi seu dia?
- Ótimo, sente-se.
Elisa assentiu
com um leve movimento de cabeça e sentou-se com toda sua falta de peso. As
coisas mudaram tão rapidamente. Aquele fantasma na frente de
Pablo era tudo que restara de Elisa, ele e as cartas.
Podia tocá-la,
beijá-la, amá-la mas não era sua querida esposa. Mesmo assim agradeceu a Elias,
por ter descoberto essa benção, Por ter deixado preservado um pequeno pedaço da consciência
de sua esposa. Apesar de tudo Pablo nem mesmo conheceu Elias.
Elisa lhe deu
um beijo carinhoso, mas foi como se um fantasma o tocasse com seu hálito frio.
Mesmo assim, correspondeu o beijo.
Pablo era um
homem morto...
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