Esses heróis que para mim são o sal da
terra dão gosto a curta vida dos mortais que aqui vivem. Eles próprios podem se
encontrar com a morte, mas mesmo assim prosseguem em cada aventura conquistando
suas vitorias e quando perdem e caem em campo de batalha é como
que vencessem assim mesmo. Em seu ultimo suspiro gravam seu nome
na mente dos que ficam em terra, ganhando cada vez mais força em histórias que
surgem a seu favor. E mesmo que na forma de um herói desconhecido eles
conquistam mais corações do que um simples deus. São lembrados tanto como os
deuses e me arrisco a dizer que muito mais do que nós gostaríamos que fossem.
Eu vejo esses seres criados na vontade
de meu pai, se vangloriando por aí simplesmente em possuírem algo de divino em
seu sangue, filhos de uma mortal com um deus. São os únicos mortais que estão
marcados para que a morte, conhecida no hábito de cometer muitos enganos, saiba
o momento certo de levar seus espíritos para o além. Mesmo assim
quando à hora chega alguns têm a coragem de encarar a criatura alada e
conseguem uma vida mais longa, simplesmente porque comprovam seus assuntos
inacabados e não dão o braço a perder.
E eu não imaginava que fosse tão
complicado, numa forma mortal, viver nesse mundo. Presenciei a vida de alguns
dos meus meio irmãos, mas admito, aprendi muito pouco só em acompanhar seus
passos. Filho de um deus, praticamente inexperiente nesses assuntos, ou pelo
menos eu era. Agora aprendi da pior forma como é sentir dor, fome e frio. Na
casa de meu pai nada me atingia.
Mas... quis ser herói, admirei a curta
vida de meus irmãos bastardos. E de qual forma um deus poderia realizar feitos heroicos?
Foi assim que decidi me tornar mortal e meu pai, sendo quem era,
impôs quais seriam as condições para que seu filho fosse à terra.
“Cuidarei de que nasça em família
humilde, para que possa ver a injustiça criada pelos homens” disse ele, e eu
apenas sorri. “A partir de certa idade ganhará força e terá consciência de quem
é seu pai.” Não gostei de passar alguns anos sem saber quem era, mesmo que
fossem poucos anos, aquilo não me agradou, mas aceitei.
Meu pai tomou forma mortal e se deitou
com aquela que me daria à luz e assim nasci.
Tomei consciência de mim mesmo da pior
forma possível. No dia em que meus pais mortais foram mortos por soldados do
exército de seu próprio rei, me vinguei matando-os alguns dias depois. Assim,
saí pelo mundo cometendo feitos heroicos!
Só agora percebo que fui clichê: matei
monstros às dezenas, ladrões, saqueadores e lutei em duas guerras. Até mesmo
enfrentei um de meus irmãos. Ele não sabia quem eu era, e confesso que fui
derrotado.
Agora estou de volta, ao lado esquerdo
de meu pai. Curiosamente com muitas cicatrizes pelo corpo, mas que
estão desaparecendo aos poucos. E olha que morrer dói muito! Pelo
menos minha morte foi assim e não pense que reclamo disso. A dor é uma coisa
com a qual até hoje não me acostumei.
O Irmão de Venial