sexta-feira, 30 de maio de 2014

SONHO: AFASTE-SE


SENTADO NESTA ESCURIDÃO, COM o barulho incessante de um mosquito a minha esquerda, já faz meia hora ou um dia, não sei muito bem, como não enlouqueci ainda?

E essa escuridão domina meus olhos, como se uma enorme mão tapa-se o rosto. Desesperou-me, acelerou meu coração e me fez sentir afogar. Tão liquida ela é, como se eu pudesse tocá-la.

Tento me afastar de tudo isso, fecho os olhos e me tranco dentro de mim. Meu braço começa a arder, não posso olhar, mas mesmo assim olho e o sangue escorre de um enorme corte lateral.

Uma voz vêm de algum lugar distante, me acusa, e quando ela se vai, sou eu me culpando, adormeço!

ACORDO E ME VEJO no meio de um circulo em que nas laterais passam pessoas sem rosto. Algumas vêm em minha direção, mas são afastadas por um animal, verdadeiramente um monstro, ele corre em volta de mim impedindo todos de se aproximar... 

quarta-feira, 28 de maio de 2014

SEQUESTRO



FABIO PAULO VIAJAVA EM grande velocidade por uma auto-estrada do interior. Os faróis desregulados de seu carro cortavam a escuridão, pontuados de minuto a minuto os olhos de gato passavam despercebidos.

E o radio tocava, Raul. Tentando se manter acordado, Fabio arregalava os olhos pesados pelo sono. Tinha que chegar a cidade do Vale às 6 h da manhã e muitos quilômetros existiam em sua frente.

“Eu nasci há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais.”

Perdeu a consciência por alguns segundos, a música já se tornara outra e as rodas ainda andavam pela estrada. Tinha que chegar... Tinha que chegar... Suas pálpebras se fecharam novamente e no momento que isso aconteceu, Fabio nada percebeu, apenas dormiu.

Acordou em um ambiente iluminado. O frio entrava em seus pulmões, não conseguia falar, apenas se dispôs a gemer. Onde estava? Com certeza tinha batido com o carro e fora internado.

Sua visão ficara embaçada, vil um rosto aparecer ao seu lado. Sentiu que tocavam nele e voltou a dormir.

Vozes indefinidas, sombras, sensações de frio e calor, desconforto foi o que conseguiu definir sobre o sono que teve.

E acordou novamente em seu carro. Tinha estacionado a beira da estrada e Raul continuava a cantar:

“Eu vi Cristo ser crucificado. O amor nascer e ser assassinado. Eu vi as bruxas pegando fogo pra pagarem seus pecados.”


domingo, 18 de maio de 2014

VIDA ETERNA


  MARCO NESTAS PÁGINAS AMARELADAS pelo tempo, tão ásperas em minhas mãos, com um simples lápis apontado por meu canivete, estas últimas palavras que um ser humano vai escrever na face da terra. Digo isso por pensar ser o único ser vivo existente e o dom da imortalidade que alcancei. Hoje de nada me serve.

Maldito seja meu nome, por na juventude repleta de livros, ter procurado a vida eterna; malditos sejam mil vezes os meus olhos por terem percorrido aquelas páginas e decifrado os símbolos e fórmulas alquímicas que me possibilitaram derrotar a morte.

Meus pés andam em um mundo destruído, onde os únicos restos de uma raça que dominou terra, água e ar são apagados pelo tempo.

Dedico esse texto ao esquecimento. Quem vai ler meus pensamentos? Qual criatura vai conhecer minha história?

Incrível como em questão de poucos anos no abandono, as árvores crescem ou a grama conquista seu espaço. A poeira formou camadas sobre tudo, as rachaduras andam atrás de mim e correm em minha frente.

Parece que, se não tem ninguém para ver ou escutar, tudo se desenvolve e o silencio agora eterno cria vida aos meus olhos.

Na escuridão da noite, olho as estrelas pálidas e me pergunto se ainda  existe alguém neste mundo ou até em outros planetas. Antes do fim, tivemos sinais da existência de civilizações alienígenas, mas o tempo foi pouco e não permitiu uma resposta.

A energia vai se esgotando. Consegui acumular baterias e pilhas Agora tudo me pertence. Apesar de não precisar comer, sinto necessidade de ter o gosto de algo comestível. Os enlatados vão me satisfazer por muito tempo, mas sei que a cada dia vou ter que criar o que uso ou consumo.

De uma coisa tenho certeza: bastante tempo eu vou ter para ler e juntar todo o conhecimento deste mundo que acabou. Sou o que sobrou, o único que o tempo não vai destruir.


domingo, 11 de maio de 2014

LIBERAÇÃO DA MACONHA


O FATO É QUE O consumo de qualquer tipo de droga se torna uma maneira de se escapar dos problemas, para muitos é bastante difícil viver 100% consciente da opinião dos outros ou de seus próprios erros. E a pessoa seja branca ou negra, gorda ou magra esta sujeita a se deixar levar pelo vicio de se esconder da realidade.

É claro que as drogas licitas são permitidas por se considerar que moderadamente não fazem tanto mal quanto a maconha ou a cocaína. Mesmo assim leis são feitas para o controle da bebida ou do uso do cigarro e que muitas vezes não são respeitadas. Isso é um fato que todos podemos ver.

Uma das justificativas dos que defendem a liberação da maconha seria que ela é uma droga medicinal. Tudo bem libere para os doentes que verdadeiramente precisão dela, tudo deve ser feito para recuperá-los ou pelo menos minimizar sua dor. Porem um remédio pode se tornar um veneno se não tiver doença para curar ou se for usado de mais.

Não seria uma forma de se separar o joio do trigo? Ou uma manobra política para controlar as massas? Pensamentos obscuros estão por trás de cada decisão polêmica e não é papo de dominação mundial é uma realidade, os lucros são grandes. Seria a droga da felicidade de um “Admirável mundo novo”?

Diz-se que a maconha é uma porta para outras drogas, com ela a pessoa voa baixo, sente prazer com o calor do sou que esquenta suas azas de cera. Com o tempo o prazer já não é mais como antes, aí se procura voar mais alto. Alguns podem contentar com as poucas alturas, mas outros vão subir procurando sensações mais fortes e não são poucos. Liberar essa droga não seria abrir a porta?

A questão não é pensar em si próprio: “Há eu penso que seria bom por que cada um sabe o que é melhor para si”. Mas sim pensar nas consequências que poderia gerar na comunidade que é nosso país. “O povo está pronto para isso?” “As leis de controle vão ser respeitadas no Brasil, que é considerado um país corrupto onde não se respeita leis?”

Podem ter o pensamento de que é escolha de cada um, mas muitos outros são atingidos apenas pela queda de um. Existem as pessoas de vontade fraca e as fortes. Isso é fato, filhos sofrem pela bebedeira dos pais. E não se diz que os direitos de uma pessoa terminam quando o direito do outro começa?

E com a liberação de uma droga abriria se um precedente para se liberar outra como a cocaína e assim por diante.


Terminando as justificativas. Com o tempo muitos países vão liberar o consumo da Maconha, gerando muito dinheiro. Vai se legalizar o que hoje é ilegal e muito provavelmente o trafico vai evoluir, criando varias outras formas de lucrar. Não seria um golpe no tráfico, mas sim um incentivo, um estimulo de adaptação. Poderia dar muitos exemplos como: “Há a televisão vai acabar com o rádio. O correio eletrônico com os correios ou até mesmos a internet com a televisão.” Doce ilusão. 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

HOMEM DE CAVANHAQUE


  O HOMEM DE CAVANHAQUE andava por entre as ruas de uma cidade grande vendo a enorme altura dos prédios e ficava com vertigens, olhando para cima quase tropeçou. Parou na causada de seu edifício, morava ali e pretendia subir até o ultimo andar.

Tudo fora feito, jogou o jogo da vida e por falta de atenção, por inocência, tinha perdido. Subiu pelas escadas contando os degraus e lá pelo centésimo primeiro, já respirava pela boca.

Encontrou um livro apoiado no centésimo vigésimo degrau. Sua capa era verde e trazia escrito na lombada: “Vladimir Nabokov - Lolita”. Há quanto tempo tinha lido sobre Dolores já não lembrava mais de H. H.   

Chegando ao terraço sentou em um das varias muretas, folheou o livro e o deixou de lado. Cobrindo o rosto com as mãos, respirou fundo, iria se matar pulando do prédio mais alto da cidade.

Quando tirou as mãos do rosto, vil um homem no beiral do edifício, sem camisa, braços estendidos. No mesmo instante que o vil, desapareceu de seus olhos. Acabara de ver um suicídio, um exemplo do que pretendia fazer.


E lá em baixo  o corpo estendido já formava uma poça de sangue. Decidiu pensar e descobrir um jeito para resolver seus problemas. Não ia mais se matar! 

terça-feira, 6 de maio de 2014

DE TODO CORAÇÃO




PROCUROU EM TODAS AS gavetas da casa, muitas gavetas, mas não encontrou. Cada minuto que passava significava que podia ser pego e, se fosse pego seria o fim. Claro que tinha a oportunidade de ele não encontrar o papel, mas tinha que tentar.

Já dera uma olhada nas estantes de livros, ele tinha Julio Verne e Jack London, Kafka e Machado de Assis. Há, ele foi feito pra mim!

E nos últimos minutos da chegada de Miguel, o desespero o dominou. Não encontrava o papel em que colocou todo o seu coração, definindo o amor errado que cultivava no peito.

Uma mosca enjoada começou a atormentá-lo e nada que fizesse conseguia afastá-la. Sai... Sai... Daqui, tenho que ir embora. Disse no mesmo estante em que a chave girava na porta de entrada.

Um lindo rosto de cabelos cacheados se mostrou a seus olhos. Miguel espantado ao vê-lo parado ali na sala, disse que tinham que conversar e mostrou um papel dobrado entre suas mãos.

Se sentou no sofá, meio tremulo, era o fim. Iria odiá-lo para sempre, Miguel nunca mais vai falar comigo.


Quero escutar de sua boca, fale, não tenha medo. Você me ama Paulo? Não conseguiu responder, seu coração palpitava no peito, a boca seca dava a intenção que iria se despedaçar se dissesse uma única palavra. Então só conseguiu balançar a cabeça afirmativamente.

sábado, 3 de maio de 2014

Duas Mulheres




- I -

UMA LUZ QUE VEM da esquerda ilumina seu rosto de  um jeito meigo, eu diria, até brincalhão!

Os olhos arredondados. Consigo ver toda a circunferência de sua ires verde, mas que me parece ser azul. As mechas do cabelo curto caem sobre o olho esquerdo, não o cobrindo totalmente.

A sobrancelha é meio apagada, os cílios curtos.

Sua boca sorri mostrando duas covinhas interessantes. O nariz uniforme forma luz e sombra.  E sua pele branca, seu queixo fino arredondado.

Do nada uma frase agourenta surge em minha cabeça, gritando sem parar: “NUNCA... NUNCA SERÁ!”