quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Mãos Queimadas


IRMÃO, ESTOU ESCREVENDO ESTÁ carta com um objetivo: contar a você o que aconteceu naquele dia fatídico de dezembro. Paulo, as coisas não foram fáceis para mim, nunca acreditei que poderia acontecer uma coisa daquelas ao Gabriel. E sinceramente até hoje não acredito! Ainda sinto que ele está do meu lado, falando sobre os livros que leu.

Não sei se você o conheceu, que nome não é, um anjo ele.

Consigo o imaginar como um guerreiro com uma armadura prateada e uma Estrela D'alva na mão, suas azas de arcanjo abertas sobre as cabeças de seus inimigos.

Ele é meu colega deste  criança, tenho certeza que você já o vil de relance. Talvez seu nome tenha trazido alguma maldição ou bênção, não sei ao certo.  

Não era uma pessoa muito querida, e eu fui um de seus poucos amigos. Também não se esforçava muito pra fazer amizades, não que tratasse as pessoas mal, só não conversava muito. dizia que a solidão era melhor e seus livros, companheiros de longa data. Ainda sorrio guando lembro quando ele me emprestou um daqueles que mais gostava, a indecisão de me estragá-lo, a promessa de cuidado que eu deveria ter.

Sinto muito em falar, mas ele morreu, tenho certeza que você leu alguma coisa nos jornais. Não tive como ajuda-lo e, olha que estava perto... Mas a pessoa que fez aquilo... Desejo que se recupere depois de pagar por seu crime. Não tenho a menor vontade de voltar à vela.

Minhas mãos estão queimadas, prova de que tentei. Vou carregar essas marcas como uma amarga lembrança de que o mundo não é perfeito.  

Não quero de nenhuma forma descrever suas roupas marcadas pelo fogo, me dói velo ajoelhado na causada, incapaz de apagar as labaredas que o consumiam. Eu tentando ajuda-lo e todos a minha volta parados, atônitos, sem saber o que fazer até que foi tarde de mais.

Você não é capas de imaginar a quantidade de pessoas que queriam me ver depois disso. As cartas de incentivo, as frases feitas, as justificativas criadas pela religião. Parece que se sentiam culpadas pelo que aconteceu, não precisavam.  

Saudades de você Paulo. Espero que possa voltar rapidamente de seu emprego. Um abraço de seu irmão mais novo, que ainda está se recuperando das marcas na alma.




Davi...

5 de Janeiro de 2013
    

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