segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CASA - CAPÍTULO IV


NOITE, NATANAEL SENTADO EM um banco, de frente ao fogo que crepitava no silencio da casa. Comia uma sopa praticamente intragável, mas a fome obrigava! Todos os ocupantes olhavam curiosos em sua direção, o pai de Joyce sentado ereto em sua cadeira a sua mulher em pé aparentemente nervosa e a própria Joyce encostada em uma das paredes.
- Come isso logo garoto – disse Pedro irritado, que era o pai de Joyce.
- Tudo bem, já terminei.
- Bom... Agora podemos conversar. De onde você veio e como conseguiu um livro? – Sua voz era áspera.
- É muito difícil explicar, mas eu estava dormindo em minha casa e acordei na floresta.
- Magia! – Murmurou Isabel, mãe de Joyce.
- Como assim, eu apareci naquela floresta por causa de magia?
- Isso é se você estiver falando a verdade, mas ainda não medisse onde encontrou esse livro.
- Eu encontrei em um banco verde. Mas não entendo, onde eu moro temos dezenas de livros!
Pedro nada mais falou e se retiro ordenando que  Joyce preparasse o lugar  para Natanael dormir.
Deitado em um chão duro, sentido o cheiro forte do cobertor, não sabia como sair daquela enrascada e sentia falta de seus pais e seus livros.

***

Se eu disse-se que as coisas são imprevisíveis, de certa forma são sim, isso que faz o mundo ter graça. A única coisa que se sabe e de que qualquer ação gera uma reação. Você se corta, sangra, senti dor...
E a consequência de dormir é acordar e, Natanael acordou, demorou bastante  para se localizar, o cheiro ruim do cobertor já não existia, nem o chão duro aonde dormiu, estava em seu quarto, acreditou definitivamente que tudo foi um sonho.
- Pai. – Gritou entusiasmado, Já se preparando para sair da cama. Encontrou o pai no meio do caminho. – Tive um sonho incrível.
- Que bom filho! Como foi o sonho?
- Sonhei que tinha acordado em um mundo que os livros eram raros e eu estava com um na mão.
- Que legal você tinha que escrever isso.
Sim ele ia escrever o que tinha sonhado, já estava com essa ideia na cabeça deste que tinha chamado o pai.
E aquela menina Joyce... Iria gostar de falar sobre ela. Pareceu tão real!
Passou o dia todo pensando naquele mundo dos sonhos, como foi sonhar com aquilo? Essas perguntas fizeram nascer à vontade de voltar para viver naquele mundo. No colégio foram horas intermináveis, quase insuportáveis não conseguia fixar a atenção, se tornando um alivio o bater do sinal de saída.
Chegando em casa, se lembrou do livro, até então avia apenas focado em um único pondo, o mundo que era um sonho! Já com o livro em sua mão, pensou em rele-lo. Quem sabe sonharia de novo, afinal a história ainda não avia terminado. 

Mas não o achou, e depois de procura-lo em toda a parte, desistiu. Ao invés disso, pegou lápis e papel e tentou contar o que avia passado. 

CONTAS E FORMULAS


PERDIDO ENTRE CÁLCULOS DOS mais variados, fico eu. E faço uma coleção de formulas no caderno, a soma dos quadrados dos catetos e igual ao quadrado da hipotenusa. Me vem na cabeça e tento achar a hipotenusa que se disfarçar na forma de uma simples letra. Sou um pequeno matemático queimando as ideias no papel.

E a explicação do professor que desenha um triangulo no quadro, para facilitar o aprendizado, agita meus pensamentos.

- Vamos pessoal, temos que terminar essa aula o tempo é pouco. – Fala o professor continuando a escrever.

E eu ali tentando decifrar o indecifrável, pra mim naquele momento. Até que o sinal bate e com alguns resultados feitos e outros encaminhados. Fecho meu caderno e vamos a próxima aula.   

Ter que calcular a área total, lateral, da base e o volume de varias formas geométricas, é uma coisa interessante. Com formulas mudando para o tipo de cálculo e forma do objeto a ser medido. Porque não saber quantos metros quadrados e litros cúbicos podem ocupar um determinado espaço?

Digo interessante, mas não pensem que gosto. Sim é aquele sentimento de algo importante a ser feito, que me coloco em algumas situações e que às vezes falha. Mas que hoje em dia está muito mais forte para comigo. 


domingo, 29 de setembro de 2013

UM VILÃO NA HISTÓRIA - CAPÍTULO III


UM ENORME VOLUME REPOUSAVA sobre uma mesa e um homem curvado sobre ele, folheando suas páginas amareladas e empoeiradas. A cada folha passada, pequenos glóbulos de poeira se levantavam formando espirais. O que podia se esperar era que fosse um homem velho e carcomido pelo tempo, de idade igual a do livro, mas não. Era relativamente jovem, de feições tranquilas, uma barba serrada com nenhum fio branco, sobressaltava de seu rosto. Lia avidamente e com uma rapidez inacreditável, que de minuto a minuto uma página nova era posta diante de seus olhos. 
Procurava segredos a muito tempo perdidos, talvez escondidos naquele livro ou em qualquer outro que avia conseguido por meio de trapaças. Suas feições se transformaram de um momento para o outro, irritado por não ter descoberto nada, joga o livro longe.  
- Nada... Nada... Não encontro nada! – Batel com as duas mãos na mesa que estremeceu. – De que me adianta ter todos os livros e não poder usa-los.

SUA VIDA - CAPÍTULO II


NATANAEL ERA UM GAROTO de 15 anos, que vivia pacatamente em uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro. Deste que nasceu, entrou em um mundo de livros, inclusive seu nome foi retirado de uma história que seu pai se identificara.
O pai de Natanael possuía uma biblioteca enorme com mais de mil volumes, em uma área reservada da casa. Deste os mais baratos, passando para os mais antigos aos mais caros. Dizia ele que gostava de pensar por quantas mãos passaram aqueles volumes amarelados que possuíam uma coleção de tantas dedicatórias de desconhecidos. Algumas eram de amigos de seu pai. Mas muito poucas!      
Aprendeu a ler com 4 anos e a partir de então não parou mais. Lia um livro atrás do outro como uma verdadeira traça. E começou a montar sua biblioteca em seu quarto.
Um dia, um livro diferente apareceu em sua vida. Saindo do colégio o encontrou abandonado em um dos vários bancos verdes de uma praça, que tinha o costume de atravessar para chegar em sua casa. Curioso pelo assunto e pelo fato de ter descoberto um objeto daquele, totalmente abandonado sem ninguém por perto para reivindica-lo. Foliou as páginas para procurar alguma dedicatória ou assinatura. Nada achou, ou antes apenas uma coisa, escrito na ponta superior da primeira página duas palavras “Livro Circulante”, ficou muito alegre por ter descoberto um daqueles livros. Sabia muito bem o que era um livro circulante e o que deveria fazer com ele. Deveria ler e passar adiante! Muito feliz o guardou na mochila e foi em borá pensando em quem o tinha lido antes.
Em casa foi correndo ao seu quarto, para colocar o seu achado em um lugar seguro.
A casa de Natanael era diferente de todas as outras, não tinha televisão, não por seus pais não terem condição financeira para ter uma. Mas pelo fato de considerarem um objeto superfulo e criador de mentes fracas. Quanto ele era mais novo esse assunto foi discutido muitas vezes entre ele e seus pais, principalmente pelo convívio que tinha com os amigos e pelo fato de todos conversarem sobre programas que assistiam em casa, causando meio que uma exclusão social de Natanael em sua sala de aula. Seu contato com um aparelho desses era muito pouco, em casos excepcionais conseguia assistir alguns desenhos na casa de um amigo, mas aquilo não conseguiu lhe chamar muita atenção e por isso deixou de lado esse assunto e se afundou muito mais na leitura.          
A noite, no seu quarto Natanael começou a ler o que seria um livro fantástico. Com vilões que controlavam magia e um herói humilde, que  apenas se tornou um herói por persistência e força de vontade e foi assim pelo resto da semana.
A cada noite se sentia sonolento mais sedo, queria muito terminar de ler a história, mas o sono chamava antes. Dormia tranquilamente e acordava no dia seguinte como se estivesse se deitado a alguns minutos.
Nas ultimas páginas, sofridas e demoradas pelo cansaço, lamentou o destino do herói que tinha visto crescer diante de seus olhos. E foi dormir pensativo:
- Pra quem vou passar esse livro? – Disse ele pensando se seu pai gostaria de ler.

Pode se dizer que esse era o começo da vida de Natanael e não o dia de seu nascimento nem a hora que recebeu um nome de um personagem de livro qualquer. Mas sim na noite em que acabara de ler o livro circulante.   

sábado, 28 de setembro de 2013

UM SONHO INSISTENTE - CAPÍTULO I

O QUE DIZER DE um sonho inesperado, um sonho bom?
Um lufar de vento no rosto, cheiro de grama, canto de pássaros, sombra e luz... Ele acorda e de alguma forma percebe que está sonhando. Ainda não abriu os olhos, mas aquelas sensações não eram a de seu quarto. Agora mesmo estava deitado em sua cama debaixo dos cobertores, acabara de ler um livro e ido dormir.
Toma coragem e só então se atreve a abrir os olhos e, vê um céu de azul escura. Já de pé, espantado, sem saber onde está e como avia parado ali todo vestido, com seu tênis e causa, uma camisa azul desabotoada sobre outra preta.
Para todos os lados que se virava só via árvores, inclusive estava perto de uma gigantesca, que sustentava em seus galhos centenas de cipós e plantas sugadoras de sua seiva.
- Que estranho, parece tão real. – Diz acreditando que tudo fosse um sonho.
- Como assim garoto? Tudo aqui é bem real.
Levando um susto imenso percebe uma menina sorridente que o encara bastante curiosa. Menina de seus 15 a 17 anos, cabelos longos, cacheados e acobreados, usava um vestido que descia aos joelhos.
- Eu estou sonhando, não?
- Não seja bobo você está bem acordado, não vê? – Diz ela rindo daquela inacreditável pergunta. - Ou pensa que eu não existo!
- Sim, mas...
- não nada de mas, venha comigo já esta começando a anoitecer e você não vai gostar de ficar aqui. – Ela lhe entrega um livro, de uma forma bastante cuidadosa. Como se tivesse medo de que ele caísse no chão e se estragasse. – isso é seu, não é? Você sabe que não pode mostra-lo a ninguém? – depois de dizer isso se afasta.
Ele curioso vira o livro de um lado para o outro e reconhece na capa o que avia acabado de ler em seu quarto. Notando que ela já ia longe a seguiu.
- Ei me espera, aonde vamos?
- Para o vilarejo é claro.
- Como você se chama garota?
- Garota? – Ela se vira irritada. – Eu não sou uma criança, sou uma moça. Entendeu! E meu nome é Joyce. Como você se chama garoto? – pergunta ela ironicamente!
- Me desculpe Joyce, mas eu não sabia seu nome e queria chamar sua atenção. Meu nome é Natanael.
- Sim Natanael, vamos. - Disse ela começando a correr.
Um vilarejo apareceu por entre as árvores, com umas cinquenta casas espalhadas em torno de um rio largo. Natanael correu muito, chegando sem fôlego na entrada do vilarejo.
- Onde estamos Joyce?
No vilarejo de <<sório>> meu pai é o chefe tenho que levar você a ele, hoje você dorme lá em casa. Amanha vamos saber de onde você veio.
As casas eram feitas exclusivamente de madeira, as portas e janelas, inclusive o telhado. A que Joyce morava era uma das primeiras.
Natanael ia pensativo, mil justificativas brotavam em sua mente sobre como avia parado naquele lugar. Garoto que lia muito imaginava que de alguma forma fora transportado para dentro de uma história fantástica, mas não se lembrava de ter lido nada em relação a uma menina como Joyce ou ao vilarejo aonde ela vivia.
Em uma das primeiras casas, apareceu um homem forte e com as feições marcadas de cicatrizes, vestia roupas pesadas, mistura de lã e couro. Franziu o rosto ao ver Joyce acompanhada por Natanael que se sentiu intimidado ao ver aquele homem com cara de poucos amigos olhado serio em sua direção.
- Pai... Encontrei um menino na floresta. Ele precisa de abrigo e tem uma coisa muito rara com ele, um livro!
O homem se assustou percebendo as dificuldades que vinham com aquele garoto. Um possuidor de livros nunca poderia trazer coisas boas, para ninguém!
- De onde você veio menino, e como conseguiu um livro?      

Natanael não acreditava no que tinha escutado, realmente estava dentro de uma história, e como em todas as histórias muitas aventuras estavam por vir. Aquilo o deixava ansioso. Ainda não tinha largado de lado a hipótese de tudo ser um sonho, mas se fosse seria o sonho mais real que já teve.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

NATANAEL

O QUE PODERIA SAIR DESSE TRECHO? UMA BELA HISTÓRIA!?


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 A DISTANCIA VIL ENORMES muros que abrasavam a cidade, seu ataque de euforia foi cortado por perceber que os portões estavam fechados. Teria que dormir do lado de fora, já era noite e os sons da floresta se tornaram sombrios.
Olhava para todos os lados e via olhos que o espreitavam, gravetos quebrando era o sinal de algum animal se aproximando.
- Que bobo sou, se algum mostro quiser me pegar não vou perceber. - Disse isso tentando se animar.
Acomodou-se perto de uma grande raiz e tentou dormir com a esperança de acordar novamente em seu quanto, mas o sono não vinha e as sensações da floresta se intensificaram.
Olhos ferozes o observam.

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Não acreditava no que via, ele existia e agora Natanael corria risco de morte. Um enorme cão negro estava prestes a se jogar sobre ele. - a melhor das opções que poderiam acontecer era se transformar em um deles, pois acreditava que era um lobisomem. E a pior, ser estraçalhado naquele estante em milhões de pedaços. - rosnava e dentes amarelos e pontiagudos apareciam a todo estante. Natanael não sabia o que fazer, estava petrificado suas pernas não funcionavam e alguma coisa lhe dizia, não adiantaria correr, que em dois passos que desse para trás seria pego no mesmo estante.

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- O que fazer? - Pensava em uma velocidade inacreditável, revisando as ações de seus heróis. - Se amenos tivesse uma espada teria uma chance de me defender. - Pensou, fechou os olhos, acreditando que aquele era seu último momento de vida. pôs-se a imaginar o que faria com a espada se acaso a tivesse. fechando o punho esquerdo, pois era canhoto, e o sopesando sentindo o peso da espada imaginaria. de repente se espantou estava realmente segurando algo... e era uma espada. sem parar para imaginar de onde ela veio, esperou a investida do animal que foi rápida, também ele o foi decepando sua cabeça. o corpo inerte o derrubou, deixando sem sentidos.
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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Prova de História


SENTADO EM UM DOS cantos da sala, mesa vazia em uma brancura eterna. As provas são distribuídas fazendo seu barulho característico de páginas virando. Tenho minha consciência tranquila, eu não estudei, mas prestei muita atenção nas aulas de História.

Vejo os fantasmas de uma época em que eu nem tinha nascido, estão gritando em voz abafada. “Preste atenção em mim, eu existi. Você precisa lembrar-se do que fiz em vida!” e as respostas são marcadas, datas preenchidas e fatos confirmados.

Eles não sossegam nos dias em que abro os livros que falam sobre suas revoluções. Suas frases marcantes saltam em meu rosto. “Vim, vi, venci” revela um deles para mim. Será realmente que fizeram tudo aquilo que falam? Alguns me parecem fanfarrões contando vantagens imaginarias, que ficaram na história. Coisas que depois de um tempo descobre-se que foi mentira e mudasse os fatos.

A revolução está aí, não no que essas sombras do passado dizem. Mas na descoberta da verdade! Porque a história é feita de pontos de vistas e não de fatos totalmente reais.

- Guilherme, já terminou a prova?

- O que? Há, sim! Terminei. 


sábado, 21 de setembro de 2013

EPITÁFIO


QUANDO EU MORRER, DAQUI a cem anos que Deus queira ou noventa, oitenta anos. Quero  que escrevam em meu tumulo esta única frase: “Nunca deixou de tentar”. E que três pontos sejam colocados no final desta frase. Para que aquele que ler possa acrescentar com seu pensamento: “Nunca deixou de tentar...”  Procurar a felicidade... O amor... Alguém... E que os de coração amargo também acrescentem ao seu bel prazer: “nunca deixou de tentar...” E não conseguiu.

Que antes, minha vida seja repleta de histórias. Mas não aquela de novelas ou tantas outras histórias vulgares. Sim, espero que seja uma vida diferente, quero que tenha uma linda história de amor e um pouco de decepções, se não ficaria sem graça, mas não tantas. Pois meu coração não poderia aquentar. Quero descobrir segredos, quero ter surpresas, ler mais livros e quem sabe escrever um ou dois ou quantos eu puder.

Filhos, se eu tiver. Terão nomes diferentes, pelo menos para mim. Minha filha poderia chamar-se Agatha e meu filho Julho ou Arthur.

Que eu seja um professor porque entre todos os professores que tive, muitos me marcaram. E os únicos que não fizeram a diferença, são poucos. Entrarei em uma sala de aula e irei saber o que vim fazer aqui.

Que eu saiba, em meu ultimo dia de aula. Tenha a certeza de a saudade me pegar e que não tenha piedade até que a remedeie de alguma forma.  

E que depois de minha morte, deixe alguma marca. Nem que se for à lembrança boa de minha presença ou algum momento inspirado, em que disse algo que animou alguém.

Espero que nos dias que antecedam minha morte, tenha a noticia de um neto que está por vir. E que nessa noticia eu de um sorriso apenas.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

CONFISSÃO


NÃO SOU LOUCO, DE forma alguma. Apenas uma pessoa medíocre, de vida medíocre, trabalhando em um emprego medíocre, mas como todos que vivem por aqui nesse planeta ou para ser mais preciso nesta minha cidade: temos um momento de originalidade. 

Sou original por ter segredos que me atormentam... Minha nossa, muitos também os tem! E talvez melhores do que os meus.

Vivo só, não quero definitivamente alguém em meus calcanhares. Já me basta minha infância em que vivi vigiado, 24 horas por dia. Tenho uma irmã a que visito uma vez ao ano, um laço familiar que não consegui cortar. Já não tenho mais todos os outros laços.

Nas noites mais escuras, em meu apartamento, na leitura de livros que me absorvem de tal forma. Escuto sons que vem de meu guarda-roupa, a primeira vista não dou muita atenção, mas eles continuam e me levanto para abrir suas portas.  Nada vejo de importante, neste mero abrir e fechar de portas as acusações do que fiz me batem no rosto.

Eu a matei, de desgosto e fisicamente. A amava de tal forma que o ciúme me consumiu. E as acusações que me fazia de que eu era louco... Não, não sou louco!

Sou apena alguém que teve um momento inacreditável e, duvida realmente se tudo aconteceu. Claro, minhas lembranças são a principal prova, mas me parece irreal. Como o primeiro beijo que eu lhe dei. E agora sou um observador parcial que a tudo vê e no final me dou pena de morte. Me colocando o rotulo de monstro.


Sei que um dia vou ser pego, seu desaparecimento já foi notado, faz um mês que todo aconteceu.

sábado, 14 de setembro de 2013

A CARTA QUE NÃO FOI




INCAPAZ SOU EU DE DIZER esse eterno clichê: “ti amo” afirmação incompleta, porque logo depois deveria vir o pedido de: “Quer ser minha namorada”, Isadora espero que entenda. Por isso fico preso entre outra eterna questão, a do não.

Tento escrever essa carta só como um passa tempo, depois a rasgarei, talvez esperando que o amor que penso ter por você suma em um passe de mágica, no simples picotar da folha.

Somos bastante amigos, sei que você gosta de estar do meu lado, sei que muitas vezes quer minha companhia. Não por amar esse garoto, criança que sou, mas por me achar interessante por falar o que você gosta e de nenhum modo ti contradizer e eu me divirto com isso.

Seu personagem preferido, justamente um detetive de que li todas as histórias. Me fala de Sherlock Holmes e eu ti apresento Poirot. Conhece Romeu e Julieta e eu Tristão e Isolda.  E assim por diante, um, completando, o outro. E você sorrindo a todo instante!

É uma tortura para mim e, ao mesmo tempo como já disse me divirto.

Não sei se é verdade, mas já me falou que gosta de imaginar coisas irreais. Como uma árvore crescendo em uma velocidade espantosa, deste da semente plantada a poucos centímetros de baixo da terra ao troco criando forma e as folhas e flores aparecendo magicamente. Consigo imaginar nos mínimos detalhes.

Também tenho o costume de imaginar e agora me vem à cabeça que sua árvore começa a dar frutos, mas que por estarem muito no alto, não consigo pegá-los. As folhas caem já amareladas pelo tempo, as vejo rodopiar como se não tivessem peso. Os frutos não estão mais lá, os galhos completamente secos. E só aí percebo que estou dizendo besteiras.

De seu amigo, Isaias.
14 de setembro de 2013


PS: Agora decido que não vou rasgar a carta. Não vale apena, é uma lembrança boa! 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Mãos Queimadas


IRMÃO, ESTOU ESCREVENDO ESTÁ carta com um objetivo: contar a você o que aconteceu naquele dia fatídico de dezembro. Paulo, as coisas não foram fáceis para mim, nunca acreditei que poderia acontecer uma coisa daquelas ao Gabriel. E sinceramente até hoje não acredito! Ainda sinto que ele está do meu lado, falando sobre os livros que leu.

Não sei se você o conheceu, que nome não é, um anjo ele.

Consigo o imaginar como um guerreiro com uma armadura prateada e uma Estrela D'alva na mão, suas azas de arcanjo abertas sobre as cabeças de seus inimigos.

Ele é meu colega deste  criança, tenho certeza que você já o vil de relance. Talvez seu nome tenha trazido alguma maldição ou bênção, não sei ao certo.  

Não era uma pessoa muito querida, e eu fui um de seus poucos amigos. Também não se esforçava muito pra fazer amizades, não que tratasse as pessoas mal, só não conversava muito. dizia que a solidão era melhor e seus livros, companheiros de longa data. Ainda sorrio guando lembro quando ele me emprestou um daqueles que mais gostava, a indecisão de me estragá-lo, a promessa de cuidado que eu deveria ter.

Sinto muito em falar, mas ele morreu, tenho certeza que você leu alguma coisa nos jornais. Não tive como ajuda-lo e, olha que estava perto... Mas a pessoa que fez aquilo... Desejo que se recupere depois de pagar por seu crime. Não tenho a menor vontade de voltar à vela.

Minhas mãos estão queimadas, prova de que tentei. Vou carregar essas marcas como uma amarga lembrança de que o mundo não é perfeito.  

Não quero de nenhuma forma descrever suas roupas marcadas pelo fogo, me dói velo ajoelhado na causada, incapaz de apagar as labaredas que o consumiam. Eu tentando ajuda-lo e todos a minha volta parados, atônitos, sem saber o que fazer até que foi tarde de mais.

Você não é capas de imaginar a quantidade de pessoas que queriam me ver depois disso. As cartas de incentivo, as frases feitas, as justificativas criadas pela religião. Parece que se sentiam culpadas pelo que aconteceu, não precisavam.  

Saudades de você Paulo. Espero que possa voltar rapidamente de seu emprego. Um abraço de seu irmão mais novo, que ainda está se recuperando das marcas na alma.




Davi...

5 de Janeiro de 2013
    

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

FORAM TRÊS

PRIMEIRO, FORAM OS ÍNDIOS. Depois os portugueses vieram em forma de treze caravelas. Foi preciso uma porção de tempo para que as coisas acontecessem, mas o primeiro passo foi dado. Dois mundos se encontram e a mistura é inevitável.

Depois, sobre a força do chicote, veio um povo forte. Suas crenças, seus jeitos e costumes reprimidos, mas não mortos. Separados por um oceano de distancia, dois continentes irmãos divididos há muito tempo. De uma forma não tão boa foi feita a união. Um terceiro mundo foi encaixado nesse quebra cabeça de muitas peças, três peças que se unem formando o principal.   

Índio era gente, apesar de inocente e não sendo cristão. Negro era outra coisa nessa época de escravidão. Mesmo sendo gente, índio muitas vezes era problema sendo morto pelo branco ou por suas doenças.

Apesar dos preconceitos forjados pelo homem, a força da carne falou mais alto e, uma geração mestiça nasceu dessa união. As misturas foram feitas de tantas formas, no falar, no pensar, no saber. Anos e anos se passaram de um povo sendo oprimido na escravidão. Outro povo sendo encolhido e mais outro se multiplicando e a união entre os três, cada vez mais forte.

A religião católica, absorvendo a africana e vise versa. Santos, adquirem outras formas, orixás são disfarçados sobre a pele cristã. Incrivelmente não perdendo seu significado, mas ganhando, o encaixe foi perfeito.

A ideia de que o povo africano deveria ser solto e, de que a escravidão não deveria ser algo bom, claro, movida por tantos interesses. Essa ideia se espalhou, foi acolhida pelos poucos e com o tempo virou realidade. A forma criou consistência, mais um passo foi dado em direção ao povo brasileiro. Mas não termina por aí!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

“Nunca Mais”


UM PASSARINHO POUSADO NA janela, me contou, muito malvado que é que eu não encontraria o amor. E talvez, querendo imitar um parente seu, dos estrangeiros, danou em repetir: “Nunca mais”*. E eu nervoso que sou não sei por que, me pus a gargalhar.

Pássaro enxerido como se coloca a dizer besteiras, imitando um corvo das antigas, nada sabe do que fala! E ele insistia “NUNCA MAIS”.

Sabendo que iria bater na mesma tecla, fiquei quieto. E ele o mesmo fez.

Quieto e pensativo eu fiquei, com a certeza de que ele estava errado. Afinal a garota do meu lado, era o sinal de seu erro. Com seus longos cabelos negros e olhos que a tudo descobrem, fiquei mais tranquilo! Mas ela me olha curiosa, querendo saber o que tinha acontecido e eu sem olhar em seus olhos nada digo.

Ele ainda pousado na janela repeti seu canto: “Nunca mais”, mas percebo que está indeciso olhando para ela. Que  o vê e, apenas sorri de leve, talvez descobrindo tudo.

Passarinho amarelo esverdeado, você nada sabe sobre mim, cria juízo e deixa de se americanizar. Ele  cansado de repetir seu canto e com certeza de ter errado, se põe a voar.  
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*O CORVO  (Edgar Allan Poe)