sábado, 3 de agosto de 2013

Menino



PARA UM TIPO DE avô em especial que adora contar seus causos. De forma alguma, inventados por ele. Porem tão queridos pelos netos a ponto de criar vida.

***

 “Menino, meu avô veio de Portugal e com ele muitos costumes. Acreditava no lobisomem a ponto de se trancar dentro de casa em noites de lua cheia e ter sempre a mão uma espingarda. Apesar de dizer que pra matar, só bala de prata.” E sorria lembrando-se do avô! “Aqueles tempos eram loucos, muitas histórias de assombrações corriam por aí.” E assim aquele velho, em seu banco encostado a parede, começava a contar a história de seu avô. Rindo de vês em quando, fazendo vários comentários sobre como era antigamente.  

A varanda era tudo que existia naquele momento, um ponto de luz na escuridão da noite. Eu sentado no chão, espantando o sono que cismava em chegar. E a toda hora olhando o terreiro, acreditava ver um enorme cão negro, sentado tranquilamente no chão de terra batida, com seus olhos amarelos colados em mim. Não estava lá... É claro, mas mesmo assim eu fantasiava tanto!

E a história continuava:

 “Seu bisavô, menino, costumava contar a todos que conhecia sobre quando foi perseguido por um lobisomem. Saia de uma festa, longe de casa, já era tarde. Com muito medo montou em seu cavalo e tomou o caminho de uma estrada de terra.”

“Sei que você não chegou a conhecer meu pai! Mas já te mostrei uma de suas fotos. Ele se vestia muito bem e usava aquela barba grande, realmente o vi poucas vezes sem ela.”

“Naquela noite estava completamente sozinho. ‘Só eu e Deus!’ Como sempre dizia. Quando passou por um barranco perto de uma mata, já começava a se lamentar ter saído tão tarde da festa e ainda mais em noite de lua cheia. Imaginava mil assombrações pelo caminho.”

“No ponto mais escuro da estrada, onde as árvores escondiam a pouca luz da noite, seu cavalo começou a se assustar. Querendo sair em disparada, e meu avô puxava as rédeas, preocupado em ser jogado no chão. Conseguiu caminhar mais alguns metros, até que olhando pra trás. Vil um enorme cachorro negro parado no meio da estrada. Ele descreveu o cão como um monstro do tamanho de um bezerro e com olhos que meteriam medo até ao diabo. Não pensou duas vezes esporeou o cavalo. Perseguido por muito tempo e os latidos que pareciam gritos, cada vez mais perto. Só conseguiu se livrar do animal quando passou perto de uma Igreja, um assobio cortou o ar. Só depois de algum  tempo bem perto de casa é que teve coragem de olhar para trás. E não tinha mais nada.” 

Quanto mais a noite ia passando mais eu ficava com vontade de escutar meu avô, e com uma pontada de desejo de ficar acordado bem tarde. Via o cachorro ainda, só que agora estava deitado com as duas patas enormes juntas, a cabeça apoiada entre elas, continuava a me olhar. E as histórias passavam em um ritmo lento e bem explicado. Tinha certo fascínio por lobisomens.  No final eu já dormia e o cachorro negro no terreiro, apenas um sonho. 

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