PARA
UM TIPO DE avô em especial que adora contar seus causos. De forma alguma,
inventados por ele. Porem tão queridos pelos netos a ponto de criar vida.
***
“Menino, meu avô veio de Portugal e com ele
muitos costumes. Acreditava no lobisomem a ponto de se trancar dentro de casa
em noites de lua cheia e ter sempre a mão uma espingarda. Apesar de dizer que
pra matar, só bala de prata.” E sorria lembrando-se do avô! “Aqueles tempos eram
loucos, muitas histórias de assombrações corriam por aí.” E assim aquele velho,
em seu banco encostado a parede, começava a contar a história de seu avô. Rindo
de vês em quando, fazendo vários comentários sobre como era antigamente.
A
varanda era tudo que existia naquele momento, um ponto de luz na escuridão da
noite. Eu sentado no chão, espantando o sono que cismava em chegar. E a toda
hora olhando o terreiro, acreditava ver um enorme cão negro, sentado
tranquilamente no chão de terra batida, com seus olhos amarelos colados em mim.
Não estava lá... É claro, mas mesmo assim eu fantasiava tanto!
E a
história continuava:
“Seu bisavô, menino, costumava contar a todos
que conhecia sobre quando foi perseguido por um lobisomem. Saia de uma festa,
longe de casa, já era tarde. Com muito medo montou em seu cavalo e tomou o
caminho de uma estrada de terra.”
“Sei que
você não chegou a conhecer meu pai! Mas já te mostrei uma de suas fotos. Ele se
vestia muito bem e usava aquela barba grande, realmente o vi poucas vezes sem
ela.”
“Naquela
noite estava completamente sozinho. ‘Só eu e Deus!’ Como sempre dizia. Quando
passou por um barranco perto de uma mata, já começava a se lamentar ter saído
tão tarde da festa e ainda mais em noite de lua cheia. Imaginava mil assombrações
pelo caminho.”
“No ponto
mais escuro da estrada, onde as árvores escondiam a pouca luz da noite, seu
cavalo começou a se assustar. Querendo sair em disparada, e meu avô puxava as
rédeas, preocupado em ser jogado no chão. Conseguiu caminhar mais alguns
metros, até que olhando pra trás. Vil um enorme cachorro negro parado no meio
da estrada. Ele descreveu o cão como um monstro do tamanho de um bezerro e com
olhos que meteriam medo até ao diabo. Não pensou duas vezes esporeou o cavalo. Perseguido
por muito tempo e os latidos que pareciam gritos, cada vez mais perto. Só
conseguiu se livrar do animal quando passou perto de uma Igreja, um assobio
cortou o ar. Só depois de algum tempo bem
perto de casa é que teve coragem de olhar para trás. E não tinha mais nada.”
Quanto
mais a noite ia passando mais eu ficava com vontade de escutar meu avô, e com
uma pontada de desejo de ficar acordado bem tarde. Via o cachorro ainda, só que
agora estava deitado com as duas patas enormes juntas, a cabeça apoiada entre
elas, continuava a me olhar. E as histórias passavam em um ritmo lento e bem
explicado. Tinha certo fascínio por lobisomens. No final eu já dormia e o cachorro negro
no terreiro, apenas um sonho.
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